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Na confluência de três grandes biomas — Pantanal, Cerrado e Floresta Amazônica —, no coração do centro oeste, Mato Grosso pulsa como um território de encontros ecológicos, culturais e ontológicos. A Mostra de Audiovisual Universitário e Independente da América Latina (MAUAL) nasce deste chão como um gesto de escuta e criação: não apenas de imagens sobre a terra, mas com a terra, com seus sons, ritmos e cosmologias.

 

​​Sob o tema “Escutar a terra, romper a imagem”, a vigésima quarta edição da MAUAL propõe uma reflexão ética e estética, convidando o público a um retorno sensível ao gestos de ver e escutar, uma florestania dos sentidos que brota do encontro entre territórios, sons e imagens.

 

Escutar a terra é deslocar o centro da enunciação — é abandonar o olhar colonizador e abrir-se às vozes múltiplas que brotam do chão: vozes indígenas, quilombolas, ribeirinhas, pantaneiras. Vozes que conhecem os ciclos das águas e a resistência das raízes. Trata-se de escutar não com o ouvido urbano, mas com o corpo inteiro — escuta sensível, geopoética, comprometida.

 

Romper a imagem, nesse contexto, é um gesto duplo. É quebrar com os clichês que aprisionam os biomas em imagens turísticas, exóticas ou folclorizadas — imagens que extraem do território apenas superfície, apagando suas lutas e saberes. É um rompimento com o extrativismo imagético, aquele que transforma a paisagem em mercadoria, esvaziando-a de vida.

 

Mas romper é também permitir o nascimento de imagens outras — não mais capturadas de fora, mas cultivadas desde dentro. Imagens que não se contentam em representar, mas performam o território e tensionam o visível. Imagens insurgentes, que recusam o enquadramento dominante e anunciam outras formas de ver e de viver. É "descolonizar o imaginário", como denomina o artista Denilson Baniwa, reabrindo fissuras por onde as experiências do mundo possam escapar do silenciamento imposto pela modernidade.

 

Inspirado na luta do seringueiro e ativista Chico Mendes, o neologismo “florestania”, junção das palavras floresta e cidadania, nos inspira nesta edição da MAUAL. O termo, que nasce do contexto acreano do final dos anos 1990, envolve pensar a cidadania a partir da floresta, rompendo com o antropocentrismo ao considerar não apenas os direitos dos seres humanos, mas também dos outros animais, dos rios e das árvores. A florestania significa não apenas um pacto social, mas um pacto natural, baseado na consciência de nossas ações sobre a natureza e no sentimento de pertencimento ao meio ambiente. 

 

No contexto da cultura audiovisual latino americana, pensar a florestania é também repensar o olhar. Suscitar outras formas de filmar e habitar o mundo sem explorá-lo. Pisar suavemente a terra é também um modo de olhar – um olhar que não se impõe, mas se entrelaça com os ritmos da natureza e dos povos que a habitam.

 

A MAUAL, ao se enraizar na escuta dos biomas, evoca essa ideia de pertencimento que não é urbano, mas territorial, não é apenas civil, mas ancestral, ambiental e comunitário.

 

Em uma trajetória de 24 anos, a Mostra mais uma vez se abre como um campo sensível, onde a câmera não apenas representa, mas escuta, devolve o olhar, amplia horizontes e abre espaços para o audiovisual do porvir, o audiovisual universitário.

 

Sejam bem-vind@s à 24ª MAUAL!

 

ENDEREÇO
Centro Cultural
Universidade Federal de Mato  de Grosso
Av. Edgar Vieira, s/n Boa Esperança, Cuiabá-MT

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